Exótica: O que dança quando o esquecimento é invocado? Bienal Sesc Dança 2025

 

Foto: Tammo Walter

Pegue um objeto pequeno na sua bolsa. Segure-o com as mãos. Feche os olhos. Mentalize seus antepassados. A partir de agora, esse objeto o representa.
É assim, num gesto simples e ritualista, que tem início Exótica — entre cheiros, flores, incenso e uma luz que parece filtrar o tempo. O ambiente nos conduz a um estado de atenção e escuta. O espetáculo, dirigido por Amanda Piña, propõe uma revisão das danças europeias a partir da memória encarnada das intérpretes e intérpretes em cena. Um a um, evocam lembranças que trazem à superfície artistas que foram apagadas da história da dança por sua cor, origem ou dissidência: La Sarabia, Nyota Inyoka, François “Féral” Benga, Leila Bederkhan.

O cenário, delicado e envolvente, cria uma atmosfera quase onírica, onde o tempo parece suspenso. As coreografias são precisas, belas, executadas com leveza e carisma — sem o virtuosismo típico da dança europeia que a obra revisita. Contudo, o roteiro se torna previsível: entre falas e danças, o ritmo da encenação se estabiliza e, por vezes, antecipa o que virá. A proposta, potente em seu gesto político, acaba por se tornar mais explicativa do que transformadora.

Ainda assim, há momentos em que Exótica se impõe pela beleza do seu propósito: ao reconstruir uma história silenciada, a obra celebra a pluralidade que a Europa insistiu em negar. É uma cerimônia de reparação, talvez contida, talvez excessivamente cuidadosa, mas, de todo modo, necessária.

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