É como um dedo apontando um caminho para a lua (It is like a finger pointing a way to the moon): entre o visível e o invisível | BIENAL SESC DE DANÇA 2025
. Foto: Danny Willems
Em It is like a finger pointing a way to the moon, da artista sul africana, Moya Michael (em colaboração com outros artistas), o palco se torna um espaço de escuta e descolonização. A cena se desenha em camadas de tempo e de matéria: tecidos, luz, projeções, areia, som, que se harmonizam em um movimento contínuo, mais próximo da vibração do que da coreografia. A narrativa, embora sem contornos aristotélicos, conduz a espectadora por uma progressão visual e rítmica que sustenta o olhar, como se a própria imagem dançasse.
A proposta contracolonial atravessa toda a estética do trabalho. Está na performer, em sua presença firme e delicada, e também na relação entre corpo e ambiente: a projeção que se transforma conforme os tecidos se deslocam; a terra que cai como pêndulo do tempo; os objetos que ganham densidade ao serem tocados. A dança, aqui, se espalha impondo-se presente para além do gesto da artista, mas também no músico que incensa a plateia, no som que se desloca pelo espaço, no movimento conjunto de corpos e coisas.
A trilha sonora, desenhada e executada ao vivo por Simon Thierrèe acompanha esse fluxo com discrição. Não ocupa o centro, mas tece o chão da experiência. É um som que respira com a cena, sustentando a harmonia entre as presenças, sem exigir protagonismo.
Em um dos momentos marcantes, a performer aponta, cantando em blues, o olhar turístico e a exotização das culturas africanas. Na música enumera experiências pelas quais se pode pagar: caçar, vivenciar o “museu dos vivos”, observar o cotidiano transformado em espetáculo. A ironia poética da sequência desnuda o olhar eurocentrado que transforma o outro em mercadoria. Nesse gesto, a peça reafirma a arte como campo de resistência e crítica: o corpo que dança não é objeto de observação, mas sujeito de pensamento.
Ao final, a imagem da lua retorna como lembrança de que o que importa não é o dedo que aponta, mas o horizonte que se deseja alcançar. Moya Michael propõe um movimento de desaparição: deixar-se ver e, ao mesmo tempo, recusar o enquadramento. A dança se torna, assim, um modo de existir entre presenças visíveis e invisíveis que seguem orbitando o nosso olhar.
Ficha técnica
Criação Moya Michael
Em colaboração com Victoire Karera Kampire, Simon Thierrée, Joachim Ben Yakoub
Cenografia Spela Tušar
Figurino Andrea Kränzlin
Video Victoire Karera Kampire Desenho de som Simon Thierrée Desenho e direção do luz Ellie Bryce Som Patrick Van Neck
Dramaturgia Joachim Ben Yakoub Direção de palco Caroline Wagner Técnico de luz no Brasil Mauricio Shirakawa
Técnico de som e vídeo no Brasil Rodrigo Gava
Coordenação técnica no Brasil Clara Caramez Produção no Brasil VUELA (Ariane Cuminale)
Direção de produção Lise Bruynseels Gestão e distribuição internacional Cecilia Kuska
Produção KVS
Coprodução WIELS, Perpodium, Bergen Kunsthall
Com o apoio de The Belgian Federal Government's Tax Shelter via BNPPFFF
Comentários
Enviar um comentário