O que reverbera ao vivo? Corpos dissidentes e o necessário desconforto em cena


Foto: Nana Moraes



Com a direção e o texto de Marcio Abreu, AO VIVO [dentro da cabeça de alguém] é o mais recente trabalho da companhia brasileira de teatro, em cartaz no Teatro do Sesi-SP, com entrada gratuita.

O espetáculo conta com um elenco diverso, formado por Renata Sorrah, Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Bárbara Arakaki e a incrível Bianca Manicongo. A peça convida o público a mergulhar em uma suposta biografia. Inspirada nas obras de Anton Tchekhov, a narrativa explora os caminhos da memória, dos sonhos e do tempo, questionando o lugar das experiências individuais e coletivas na sociedade brasileira contemporânea.

Mas, o que acontece quando corpos tão distintos ocupam o palco? O que podem corpos discentes em cena? Que impacto há em ver Renata Sorrah dividindo o palco com mulheres trans e drags? E o que essas presenças causam a um público que, muitas vezes, não está acostumado com as subversões do teatro? Em tempos de campanhas políticas permeadas por discursos misóginos e conservadores, a presença desses corpos em cena ecoa como uma resposta, um grito necessário. O espetáculo dialoga, explicitamente, com o contexto social, propondo reflexões que vão além da estética e alcançam o espaço político.

Para além de tantos méritos artísticos – texto, direção, atuações, cenário, iluminação, trilha sonora – AO VIVO se destaca pelo confronto direto e necessário com a pluralidade dos corpos em cena: corpos que desafiam padrões, corpos negros, corpos de pessoas mais velhas, corpos sexualmente diversos. Assistimos. Reagimos? É preciso tomar posição, e isso é algo que a peça impõe ao público. Mas é também importante que cada espectadora estabeleça o que a cena provoca em si mesma. Há incômodos? Por quê? Há alegria, identificação, reparação? Ao impor o "ver", o espetáculo nos provoca: o que nossos olhos buscam? O que a cena revela ao mesmo tempo em que esconde? E será essa "amostração" suficiente?


Sinopse

AO VIVO [dentro da cabeça de alguém] é uma criação coletiva da companhia brasileira de teatro, sob direção de Marcio Abreu. A peça nos conduz ao interior da mente de uma artista, onde passado, presente e imaginação se entrelaçam, revelando a complexidade dos afetos, memórias e projeções futuras. Inspirada em Tchekhov, a narrativa explora as camadas da memória como um campo dinâmico, desafiando o público a refletir sobre a experiência de estar vivo e os tempos múltiplos que coexistem no presente.

Ficha Técnica

  • Texto e Direção geral: Marcio Abreu
  • Pesquisa e Criação: Marcio Abreu, Nadja Naira, Cássia Damasceno e José Maria
  • Elenco: Renata Sorrah, Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Bárbara Arakaki e Bianca Manicongo
  • Direção de produção e administração: José Maria e Cássia Damasceno
  • Iluminação e assistência de direção: Nadja Naira
  • Direção Musical e Trilha Sonora Original: Felipe Storino
  • Direção de Movimento e colaboração criativa: Cristina Moura
  • Assistência de direção e colaboração criativa: Fábio Osório Monteiro
  • Figurinos: Luís Cláudio Silva | Apartamento 03
  • Direção videográfica e cenografia: Batman Zavareze
  • Fotos: Nana Moraes
  • Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Daniele Valério e Carina Bordalo
  • Produção: companhia brasileira de teatro

Serviço

  • Temporada: 22 de agosto a 1º de dezembro de 2024
  • Sessões: Quinta a sábado, às 20h; domingo, às 19h
  • Local: Teatro do Sesi-SP, Centro Cultural Fiesp
  • Endereço: Avenida Paulista, 1313 - Jardins
  • Ingressos: Gratuitos, liberados às segundas-feiras a partir das 8h no site www.sesisp.org.br/eventos
  • Duração: 90 minutos
  • Classificação: 16 anos
  • Acessibilidade: Sessões com Libras e Audiodescrição aos sábados e domingos
  • Observação: Não haverá espetáculo nos dias 30 de agosto, 21, 22, 23 e 24 de novembro.

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