A Beleza e a Poesia de Trajetórias Femininas

Foto: Nil Caniné


 


O espetáculo Isabel das Santas Virgens e Sua Carta à Rainha Louca, emerge como uma epopeia, onde as nuances da existência feminina são tecidas com a delicadeza de quem percorre tempos longínquos e opressores. A narrativa, inspirada no livro de Maria Valéria Rezende, conduz-nos pelas peripécias da vida de Isabel, uma mulher que, enredada nos costumes de um Brasil ainda subjugado pela coroa portuguesa, no século XVIII, carrega em sua trajetória a marca das paixões e da poesia, da força e da devoção.

A peça se destaca não apenas pela complexidade de sua protagonista, mas também pela capacidade de evocar, de maneira sutil e pungente, o peso histórico das opressões que mulheres enfrentam ao longo dos séculos. Atravessando as fronteiras do tempo, Isabel nos mostra que, apesar de silenciada pelas amarras sociais, sua voz ecoa em forma de resistência, amor e desejo por liberdade.

Entretanto, se há potência nas camadas dessa narrativa, sente-se a ausência de um imaginário visual mais ousado em cena. A direção, sob o olhar de Fernando Philbert, parece hesitar em explorar plenamente os símbolos que poderiam transbordar em metáforas visuais mais vívidas, que ajudariam a compor a vastidão da luta e dos anseios de Isabel. As interações com o cenário e os adereços, embora funcionais, deixam espaço para uma poética mais densa, que fizesse jus à profundidade dos textos e à presença imponente da atriz Ana Barroso.

Ana, por sua vez, habita o palco com potência, conduzindo o público pela espiral de emoções de Isabel. Sua interpretação ao mesmo tempo forte e delicada, é envolvente e cria uma conexão íntima com o público.

Nil Caniné


Embora o espetáculo se configure como uma importante reflexão sobre a condição da mulher na história, o uso mais arrojado de elementos cênicos poderia ampliar a experiência, criando um espaço sensorial que conversasse com a intensidade do tema e as potências da atriz. Ainda assim, Isabel das Santas Virgens é uma peça relevante, que evoca as lutas silenciosas de mulheres invisibilizadas, sem perder a beleza e a poesia que permeiam suas trajetórias.

Sinopse:
Este espetáculo é uma saga, uma epopeia, com uma sequência de peripécias vividas por esta mulher, Isabel das Santas Virgens, apaixonada, poeta, forte, devotada que atravessa a vida submetida aos costumes de um Brasil, ainda colônia de Portugal, no século XVIII.

FICHA TÉCNICA
Direção Fernando Philbert
Adaptação e atuação Ana Barroso
Música Original Marcelo Alonso Neves
Cenário Natália Lana
Iluminação Vilmar Olos
Figurino Luciana Cardoso
Projeto Gráfico Raquel Alvarenga
Fotos Nil Caniné
Assistência de Direção Renata Guida

Últimas Sessões:

12.09, e 13.09, às 20h (INGRESSOS ESGOTADOS)

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