Entre a moral e a ficção : “Eu Não Sou um Monstro”

Foto: Divulgação 


Vamos começar pelo final.  É preciso tomar uma decisão na frente do ator ou da personagem.  Você iria até o meu atelier comigo para eu te desenhar? É mais ou menos essa pergunta que finaliza a peça. E eu respondo que não. Eu enquanto mulher, respondi que não te acompanharia sozinha  até seu atelier. Não depois de toda a história que foi contada, envolvendo performance de assassinato e relacionamento abusivo, onde ele era o abusador protagonista nos dois casos. Realidade ou ficção na peça "Eu sou um monstro”, tudo se mistura.  Somos guiadas pelo performer Fause Haten, até que ele nos posiciona., nós público, sentadas em fileiras uma de frente para a outra. Ele se sentará em uma mesa, atrás dele um pequeno quadro branco com projeções de imagens, fotos e pinturas se alternam no decorrer da sua narrativa. Antes de se sentar, nessa mesa, antes mesmo de posicionar o público à sua volta ele pergunta se alguém poderia ser os seus olhos esta noite.  Não precisa fazer nada, apenas sentar na minha frente e me olhar. Eu levantei a mão e me voluntariei. Então, passei cerca de uma hora sentada em sua frente, ouvindo sua história que era contada olhando em meus olhos enquanto ele lia um texto. O texto com suas falas, dispostas na mesa, nos lembrando que aquilo era teatro. Estamos ali sentadas perante a um ator que está fingindo ser um personagem. A convenção está dada. E ainda assim, eu disse não. Será que o motivo foram os gritos dizendo: “Eu sou um monstro”, tentando convencer a mim, ao público ou a ele mesmo? Gritos escandalosamente vazios.....Será que me lembrei de outras histórias de abusos através da subordinação em tantos trabalhos artísticos? Foi a moral ou o medo que me impediu de dizer sim? Se eu dissesse sim, o final daquela peça de teatro mudaria? Ou ainda terminaríamos com um abraço, como assim foi?




Naquele espaço convencionado, naquele momento chamado teatro, não estávamos distantes da realidade. A todo momento éramos conduzidas pela verdade. Mas qual é a verdade? Ou a vida é uma grande performance inusitada, poucas vezes ensaiada e sempre mal administrada? Vai saber.....


Sobre a peça:

Sinopse
Escrita a partir de um acontecimento na vida do artista Francis Bacon (1909/1992) e seu namorado George Dyer, o performer pretende submeter seu público a experiência de sentir um ser idolatrado se transformar em um Monstro dentro delas. O sentimento de admiração e aversão colocados em confronto.

Ficha Técnica
Fause Haten | Diretor, Ator, Dramaturgo
Caetano Vilela | Designer de Luz
Rodrigo Gava | Designer de som e vídeo
Carol Bucek | Cenário
Marisa Riccitelli Sant'ana e Rachel Brumana | Direção de Produção
Dani Correia e Paula Malfatti | Produção executiva
Associação SÙ de Cultura e Educação | Gestão
Assessoria de Imprensa | Canal Aberto - Márcia Marques e Daniele Valério


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