Chroma Key - As masculinidades à favor do feminismo

 


O tema da masculinidade tem estado cada vez mais presente na cena teatral  contemporânea paulista. Por vezes, com um ponto de vista feminino outras para defender o feminismo por meio de voz  e experiências masculinas. Uma nova brecha, para um velho assunto, se expande. 


Em partes, olhei para Chroma Key como quem (mulher que sou) olha para um bando de homens assistindo a uma partida de futebol. Em outros momentos como quem revisita conhecidos lugares (de assédio) e então, entendi algumas situações que passei (passamos). Em outros momentos, pensando: foi escrito por uma mulher! Seguido por um suspiro de alívio. A diferença é que um homem  dizendo que não sabe onde fica o clitóris ou brindando suas fragilidades, não diminui seus privilégios, mesmo quando o brinde é feito em cena aberta. A escrita de uma mulher ironiza e aponta esses fatos e, por isso, os justifica em cena. 


Senti que algo me incomodava... Será que estou tão contaminada pelas armadilhas neoliberais e quero tudo rápido, ágil e a informação instantânea, nutrindo sempre minha vontade por dopamina ou eu, mulher, me esquivei, não quis dar sentindo em mim, aos atos fálicos lentamente expostos? Reconheci fatos na presença daqueles homens? E se fossem mulheres, atrizes em cena? Seria uma boa identificação? Iríamos rir juntas?  Há algo exclusivo que me interessa em cena?


As perguntas seguiam percorrendo minha mente…. Os espelhos do cenário nos dizem que todos os homens são iguais? Todos são só um? Unidos pelo bode enterrado no meio da sala? A sala de estar é um espaço de convivência , de visitas mas também de intimidades, quando ninguém está olhando. O lugar da briga, do sexo, da violência…  As aparências misturadas com a íntima  realidade. Aquela intimidade masculina velada, pouco remexida, misturando-se as memórias …. um contar ou não contar. O que um homem diz, pode desconstruir o que ele  mostrou de si? 


Onde estão as dúvidas estão as potências deste espetáculo. Tecnicamente muito bem trabalhado, com ótima atuação dos atores Rafael de Bona e Ricardo Henrique e direção de Eliana Monteiro. A proposta do cenário nos conduz por labirintos junto com a iluminação que, a depender de onde a espectadora se posiciona, o sútil jogo de imagens se altera. A expressão corporal do elenco expõe a violenta fragilidade do ser homem. Nos lembrando que o machismo atinge a todas nós, pessoas. O texto, mais um ótimo trabalho da dramaturga Ângela Ribeiro, é o  que causa a boa confusão reflexiva que tanto queremos sugar do teatro. 


Sinopse
Um homem cindido está em constante embate consigo mesmo. Como num circuito incansável, ele articula questões sobre pilares sociais, trabalho, dinheiro, família e o modo como atua no mundo, colocando em xeque a representação de sua masculinidade.

Ficha Técnica
Concepção e direção artística: Eliana Monteiro
Dramaturgia: Angela Ribeiro
Elenco: Rafael De Bona e Ricardo Henrique
Assistência de direção: Rafael Bicudo
Dramaturgismo: Bruna Menezes
Desenho de luz: Guilherme Bonfanti
Trilha sonora: Érico Theobaldo
Cenografia: Rafael Bicudo
Cenotécnico: Wanderley Wagner
Concepção de vídeo projeção: Bianca Turner
Figurino: Marichilene Artisevskis
Envelhecista: Foquinha Cris
Direção de movimento: Fabricio Licursi
Orientação de atuação: Luciana Canton
Operação de vídeo: Bianca Turner
Operação de sonoplastia: Igor Souza
Operação de iluminação: Mauricio Matos
Assistência de produção: Leonardo Monteiro
Produção: Corpo Rastreado / Lucas Cardoso
Idealização: Rafael De Bona e Ricardo Henrique

Serviço
Chroma Key
Temporada: 16 de fevereiro a 24 de março de 2024, às quintas, sextas e sábados às 20h30, e, aos domingos, às 19h30
Local:  Espaço Mezanino do Centro Cultural FIESP (SESI-SP)
Endereço: Avenida Paulista, 1313 – Jardins
Ingressos: Os ingressos gratuitos são liberados a cada segunda-feira, a partir das 8h. Podem ser reservados no site www.sesisp.org.br/eventos
Classificação etária: 16 anos.
Duração: 70 minutos.
Lotação: 50 lugares.

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