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A mostrar mensagens de outubro, 2025

A Beleza da Denúncia em Reinos dos Bichos e dos Animais

  Há obras que não se deixam apreender de imediato, exigem um tempo de elaboração, um corpo disposto a atravessá-las. Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome , do Coletivo CIDA, é uma dessas experiências limítrofes: densa, violenta, simbólica. A cena se constrói como um gesto de exposição radical, em que corpos dissidentes assumem o centro e nos devolvem o incômodo do olhar. Em vez de amenizar o desconforto, o trabalho o potencializa, convidando a espectadora a enfrentar aquilo que a sociedade insiste em invisibilizar e por isso, é sim, necessário mostrar. Tornar visível o que se tenta apagar é, também, uma forma de dança, um modo de existir e resistir. Inspirada na poética de Stella do Patrocínio, a peça envolve com presença, com vibração que se inscreve no corpo das intérpretes. O espetáculo se apresenta numa  fricção entre linguagem e carne, emergindo em um campo sensível de tensionamento entre humanidade e desumanização. A audiodescrição poética, elemento central...

É como um dedo apontando um caminho para a lua (It is like a finger pointing a way to the moon): entre o visível e o invisível | BIENAL SESC DE DANÇA 2025

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.      Foto: Danny Willems Em It is like a finger pointing a way to the moon, da artista sul africana, Moya Michael (em colaboração com outros artistas), o palco se torna um espaço de escuta e descolonização. A cena se desenha em camadas de tempo e de matéria: tecidos, luz, projeções, areia, som, que se harmonizam em um movimento contínuo, mais próximo da vibração do que da coreografia. A narrativa, embora sem contornos aristotélicos, conduz a espectadora por uma progressão visual e rítmica que sustenta o olhar, como se a própria imagem dançasse. A proposta contracolonial atravessa toda a estética do trabalho. Está na performer, em sua presença firme e delicada, e também na relação entre corpo e ambiente: a projeção que se transforma conforme os tecidos se deslocam; a terra que cai como pêndulo do tempo; os objetos que ganham densidade ao serem tocados. A dança, aqui, se espalha impondo-se presente para além do gesto da artista, mas também no músico que incens...

Corpos em composição: convivência, risco e presença em E nunca as minhas mãos estão vazias | BIENAL SESC DE DANÇA 2025

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.               Foto: Haroldo Saboia Em   E nunca as minhas mãos estão vazias,  da Cristian Duarte em companhia, a cena se abre como um território de convivência sensível. Sons, gestos, luzes e palavras são acionados ao vivo, compondo um espaço em constante mutação. Nove artistas se movem em diferentes direções, e o encontro entre elas cria uma dança que se faz no risco, na escuta e no instante. Há algo de instável e, por isso mesmo, vivo na maneira como as presenças se articulam. O que se vê é uma atenção contínua entre os corpos — um modo de estar junto que acolhe o atrito, o erro, o descompasso. A dramaturgia se organiza como uma estrutura porosa, aberta ao acaso, onde cada performer inscreve sua singularidade e, ao mesmo tempo, cede espaço ao coletivo. Para a espectadora, a experiência é labiríntica: o olhar se perde e se reencontra, ora na vibração do som ou da luz, ora em um gesto quase banal que, de repente, ganha...