Uterina: coragem e delicadeza em cena

Foto: David Bellavance Ricard Uterina, de Flavia Couto, estreia como um mergulho sensorial na experiência de uma maternidade interrompida e nas complexidades do aborto judicial no Brasil. A peça traz à tona um tema raramente explorado no teatro, tornando-se um espaço de coragem e visibilidade, ao expor vivências íntimas que dialogam com questões políticas e sociais urgentes. Nesse sentido, a obra cumpre seu papel mais relevante: abrir debate sobre temas que permanecem silenciados. Visualmente, Uterina impressiona. As projeções e a construção cênica evocam de maneira poética e sensível o ambiente uterino, o fluxo da vida e a efemeridade do tempo. A imagem do útero que se esvai em terra, a ampulheta gestacional em movimento espiral e a interação com elementos naturais, como água, criam uma estética potente, capaz de tocar o público de maneira direta e simbólica. No entanto, a peça se aproxima de uma experimentação muito livre. Movimentos performáticos e gestos dançantes, embora be...