Inspirado na obra de Hilda Hilst, o espetáculo Esboço mergulha na densidade de uma escrita que tensiona os limites entre o delírio, o desejo e a própria construção da linguagem. Idealizado e performado pelo ator e psicanalista Rafael Costa, com direção de Donizete Mazonas, o monólogo parte de fragmentos de textos da autora para construir uma narrativa que se dobra sobre si mesma, uma espécie de espiral, onde pensamento, palavra e corpo se retroalimentam.
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Foto: Keiny Andrade |
No centro da cena, uma esteira em constante movimento. Sobre ela, o ator caminha durante toda a peça, desde antes da entrada do público até o fim. Esse caminhar sem destino evoca tanto a errância da linguagem quanto os fluxos internos que atravessam a obra de Hilda. O corpo não é estático; ele se curva, se abaixa, busca outras alturas, resiste à repetição. A esteira, enquanto dispositivo cênico, se torna metáfora da própria experiência de existir, um deslocamento contínuo, sem chegada.
Se o texto — esse amálgama de pensamentos, desejos e angústias — por vezes exige esforços de concentração da plateia, é na fisicalidade da atuação que encontramos ancoragem. Rafael Costa sustenta a cena com uma presença que transborda nuances: do trabalho minucioso da voz que oscila entre o sussurro, o grito e o tom confessional, às sutilezas das expressões do rosto, dos movimentos da boca, dos olhares que, vez ou outra, atravessam diretamente o público, criando zonas de tensão, cumplicidade e escuta. Seu corpo, em permanente deslocamento, torna-se território poético, capaz de traduzir aquilo que muitas vezes a palavra, sozinha, não dá conta.
A peça é atravessada por uma experiência que, mesmo partindo da escrita de uma mulher que desafiou as normas do seu tempo, é filtrada pela presença e pelo corpo de um homem em cena. A tensão que se produz aí não é ruído, mas parte do jogo e, talvez, do próprio risco de encenar Hilda.
Esboço oferece contorno ao delírio, ao desejo, ao abismo do próprio existir. No limite entre palavra e exaustão. O que, afinal, pode ser dito sobre aquilo que nunca se encerra, nunca se conclui?
FICHA TÉCNICA
Idealização: Rafael Costa e 3C - Plataforma de Pesquisa, Criação e Produção Cultural Antimanicomial
Textos: Hilda Hilst
Direção e dramaturgismo: Donizeti Mazonas
Atuação: Rafael Costa
Produção: Plataforma Estúdio de Produção Cultural
Desenho de Som e operação: Pedro Canales
Videografia: Vic von Poser
Operação de Vídeo: Vic von Poser e Júlia Favero
Design e Operação de Luz: Dimitri Luppi
Assistente de Iluminação: Léo Sousa
Cenário e Figurino: Renan Marcondes
Direção de produção: Fernando Gimenes
Produção executiva: Bruno Ribeiro
Fotos: Keiny Andrade
Redes Sociais: Jorge Ferreira
Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Flávia Fontes e Dani Valério
Apoio e Sala de ensaio: Cia do Pássaro - Voo e Teatro
SERVIÇO
ESBOÇO
Data: 16 de maio a 08 de junho, às sextas, às 21h30, e, aos sábados e domingos, às 18h30*
* A apresentação do dia 24 de maio fará parte da programação da VIRADA CULTURAL. A sessão será gratuita e estará disponível para retirada online de ingressos a partir das 12h00 do mesmo dia.
Local: Projeto Teatro Mínimo - Auditório - Sesc Ipiranga - Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo, SP
Ingressos: R$50 (inteira), R$25 (meia-entrada) e R$15 (credencial plena)
Ingressos disponíveis a partir de 6 de maio no aplicativo Credencial Sesc SP, site centralrelacionamento.sescsp.org.br e a partir de 7 de maio presencialmente nas bilheterias das unidades do Sesc SP.
Classificação: 14 anos
Duração: 50 minutos
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