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A mostrar mensagens de novembro, 2024

Afeto: O que acontece quando mulheres se encontram na raiva

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  Enfrentei o medo e fui sozinha ao TUSP Maria Antônia. Eu sei, é perto do metrô, o acesso é fácil, as ruas são movimentadas. No entanto, nunca havia feito esse caminho sozinha. Mas, nesse processo de aprender a fazer coisas por conta própria e com a vontade sempre latente de espectar, me conduzi até esse algo novo. Lá estava eu, ouvindo um samba vindo da rua enquanto aguardava na fila e lia o programa do espetáculo pelo QR Code. Foto: Caio Oviedo E, ao entrar na sala, fui imediatamente abraçada pela energia da peça. Afeto não se contenta em apenas denunciar as violências que atravessam a vida das mulheres. A dramaturgia de Carla Zanini nos conduz a um território onde a dor se transforma em ação e onde a vingança não é apenas um desejo: é vivida, ainda que simbolicamente, em toda sua visceralidade. A história de Úrsula, Aisha e Bete — três mulheres unidas pela solidão, pela raiva e pelos traumas que carregam — é narrada com humor ácido e tensão crescente, prendendo a atenção da pl...

O que reverbera ao vivo? Corpos dissidentes e o necessário desconforto em cena

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Foto: Nana Moraes Com a direção e o texto de Marcio Abreu, AO VIVO [dentro da cabeça de alguém] é o mais recente trabalho da companhia brasileira de teatro, em cartaz no Teatro do Sesi-SP, com entrada gratuita. O espetáculo conta com um elenco diverso, formado por Renata Sorrah, Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Bárbara Arakaki e a incrível Bianca Manicongo. A peça convida o público a mergulhar em uma suposta biografia. Inspirada nas obras de Anton Tchekhov, a narrativa explora os caminhos da memória, dos sonhos e do tempo, questionando o lugar das experiências individuais e coletivas na sociedade brasileira contemporânea. Mas, o que acontece quando corpos tão distintos ocupam o palco? O que podem corpos discentes em cena? Que impacto há em ver Renata Sorrah dividindo o palco com mulheres trans e drags? E o que essas presenças causam a um público que, muitas vezes, não está acostumado com as subversões do teatro? Em tempos de campanhas políticas permeadas por discursos misóginos e conse...

Do Mal-Estar ao Legado: O Teatro como História e Resistência

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  Desde o primeiro momento, Exílio: notas de um mal-estar que não passa impõe uma inquietação intensa. A obra nos obriga a confrontar o peso de uma história marcada pela violência do exílio, não apenas como desterro geográfico, mas como condição permanente de corpos negros em um mundo que constantemente o desloca de seu próprio lugar. Sob a direção de Eugênio Lima, o Coletivo Legítima Defesa constrói uma experiência teatral onde o tempo e o espaço se embaralham, deixando a espectadora em uma espécie de suspensão, desvencilhando a narrativa de Abdias Nascimento e Augusto Boal. A peça se destaca pela demarcação cênica que mantém todo o elenco visível o tempo todo, durante as passagens entre personagens e cenas. Embora essa técnica seja comum, ela confere uma plasticidade funcional e atraente ao espetáculo. A história é contada através de projeções, leituras de cartas, documentos e livros, que somados ao texto e à encenação, criam uma atmosfera quase documental. No entant...